terça-feira, 14 de março de 2017

Quase vida

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Não sabia viver de outro modo, queria o mundo todo, tudo de uma vez. Ávido. Não parava de querer e não percebia o que ia se formando e crescendo, como uma aura acompanhando o corpo.

A mulher era especial, aquela lua também. Ambas fascinavam no imediatismo do momento, mas nenhuma durava em seu sentimento e na lembrança. O enlevo só alimentava seu prazer e mais nada.

Passado, isso é bobagem. Futuro, nem existe ainda, dizia e continuava ávido como se apenas o imediatismo significasse viver.

Cada dia de um jeito, cada dia com uma pessoa que ele encantava com sua beleza. Cada dia com o vazio aumentando como se fosse uma substância.

Numa noite percebeu-se diferente, quis lembrar da aurora e do sentimento pela mulher que amou num amanhecer e não conseguiu.

Sentiu a voracidade do presente que o envolvia, dominando, ditando apenas procedimentos, pedindo mais para crescer e só ai entendeu sua quase vida.

Era um corpo apenas.


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